Júlia Rathier, acadêmica do terceiro período de Psicologia da PUCPR Toledo
É cabível explanar
que o termo “Deficiência Intelectual” não significa pura e simplesmente uma
carência em questão de habilidades intelectuais. Apesar de estar intimamente
agrupada a fatores como esse.
A deficiência intelectual, como toda disfunção, tem um
histórico que delineou fases em que ela esteve envolvida, até ser construída
como conceito. Um conceito, que nós nos dias de hoje podemos ter acesso ao
pesquisarmos de forma mais aprofundada.
No Brasil, até hoje, ela ainda
enfrenta sérias distorções de apontamento, contextualização e definição, apesar
de estar sustentada muito mais fortemente, pelo conhecimento científico e pelas
bases da medicina, do que antigamente. A história traz o que pode agora
asseverar a contextualização desse quadro clínico no Brasil atualmente, não
obstante de citar muitas transformações e medidas ao longo do caminho.
Consta, que a situação da
deficiência intelectual- hoje compreendida e edificada de forma multifacetada
por: dificuldades interpessoais, condições etiológicas e dificuldades
adaptativas- por volta do século XIX, era de exclusão, o que com o tempo foi
sendo mudado. Numa determinada altura dessa mesma
época, a princípio começaram a surgir as primeiras intervenções no assunto, por
parte da Psicologia – ciência emergente na época- e da Pedagogia. Foram marcos de situações históricas
que permitiram ao quadro de exclusão, que a deficiência intelectual enfrentava
“evoluir” para uma situação de segregação.
Mas ainda haviam fortes indicadores dessa complicada fase
processual ao conhecimento da deficiência intelectual, e alguns deles, parte
muito cruel desse processo, como o
abandono, o misticismo em algumas culturas, entre outros.
Sem conhecimento científico nenhum sobre o assunto- o que na
época estava engendrando-se das grandes causas para nascer- algumas culturas
tinham impresso em seus costumes e na moral de seu povo, comportamento de
estranhamento, aos corpos dos que nasciam portando qualquer tipo de
deficiência- isto é, de qualquer natureza que fosse- dentro de suas tribos,
grupos, ou círculos familiares e de convivência.
Guiados por um aspecto evolutivo acabavam por condenar e
executar essas pessoas, na crença de que a permanência delas em corpo e
espírito dentro de suas tribos e grupos, ameaçaria vilmente a sobrevivência dos
demais- colocando em risco suas tradições, defesas e rituais.
Isso se deve à características inerentemente biológicas e
instintivas - por isso explanadas pela evolução e seleção natural- de cada indivíduo
somando-se ao grupo todo, concomitantemente carregado na defensiva por honra e
conservação de sua própria cultura, e povo.
Não poderiam admitir que tempo, atenção, condições físicas
de luta e risco fossem dispostas em função de alguém, enquanto o grupo todo
estivesse sendo posto em jogo, e é por isso que comportamentos como esse são
tão observados, inclusive em animais, além de em diferentes culturas do ser
humano. Pelo seu subjacente propósito evolutivo e de seleção.
Além de que, existiam também fatores de cunho espiritual em
determinadas culturas, como em algumas tribos indígenas, por exemplo.
Já na Idade Média, cria-se que “Todos têm alma e são filhos
de Deus”.
Observando pelo prisma de descrição dos primeiros marcos
históricos, até ali, muita coisa havia mudado e novas óticas ainda vinham a
transformar mais o quadro em que se encontrava a definição e pertinência à
“deficiência”, no sentido geral da palavra.
No século XVIII, com a Institucionalização, que precedeu a
intervenção da Psicologia e da Pedagogia,- tida no século XIX- um novo paradigma se aproximava, até então
ser proposto na década de 60.
Nos EUA, em 1960 esse paradigma é proposto, sustentado na
integração de pessoas com deficiência.
Estando contido numa época de Amor Livre, drogas, ascensão
da música, entre outros, esse processo de inclusão recebe um avanço
significativo com Kennedy, que buscou reformular as questões de tratamento aos
deficientes intelectuais, por ter pelo menos dois irmãos portadores da
disfunção.
Ainda nos EUA, começa a surgir educação inclusiva nas
escolas, com novas teorias e práticas próprias à educação especial.
Mas o novo paradigma, começa a ser submerso por uma onda de
normatização, que emerge da problemática de não se encaixar aos nossos modelos,
de produção e intelectual, assim fazendo-o perder a força
Tudo isso culminaria à já comentada fase de segregação do
século XX.
No Brasil em 1954, no Rio de Janeiro, as APAES surgem, sem
fins lucrativos e com procedimentos pagos pelo Sistema Único de Saúde.
Essa mudança traz vários pontos de crescimento e proporciona
ainda mais a inclusão por meio de
conquistas como: a regulamentação da aplicação de Teste do pezinho, e da
presença de um especialista pediatra no momento do parto, ambos direitos comuns
a todas as pessoas.
Em 1989, em 24 de Outubro (no Brasil) começa a inclusão das
crianças portadoras de deficiência em ensino regular, com a Lei 7.853, mas
ainda assim, sob esse espectro de mudança, cerca de 37% das crianças continuam
de fora do ensino regular.
Logo depois, um movimento apaeano no Paraná, é o responsável
por incluir 3.000 crianças no ensino regular, e 1.500 jovens no mercado de
trabalho.
O trabalho das APAES – mais formalmente hoje- dispõe de
propósitos pedagógicos- como a estimulação precoce- e técnicos, tais como
profissionais nas áreas de: Psicologia, Medicina, Fisioterapia, Terapia
Ocupacional, e Assistências, Social e Administrativa.
Os desafios hoje giram basicamente em torno da estruturação
do ensino regular, solução para a falta de recursos na educação especial e
regular, melhorias e incrementos nas condições sociais dos educadores e manter
o custo do ensino especial.
Outro quadro em questão e disfunção da qual a deficiência
intelectual muito comumente faz parte, é o autismo.
O país referência mundial, e reconhecido como maior
proprietário de conhecimento e pesquisa, neurobiológicos em função do autismo,
é a Suécia.
O indivíduo com autismo é caracterizado por ter um
comprometimento da parte “social” do cérebro, o que confere a ele, a falta de
empatia e de uma conexão direta com outro eu.
A deficiência afeta fisiológica e anatômicamente a área
frontal do cérebro, e o neurônio denominado “espelho”.
Ao contrário do que é sustentado muitas vezes, o autista não
tem uma capacidade cognitiva além da de alguém saudável, mas sim um hiperfoco, hipertenacidade.
Para diagnosticar o autismo, precisa-se de uma avaliação
continuada até aproximadamente um ano e meio de idade, pelo autismo não ser o
tipo de disfunção possível de ser descoberta ao nascimento, ao contrário da
Síndrome de Down, por exemplo.
Necessita de atenção dos cuidadores e médico quanto aos marcos
do desenvolvimento, por existirem várias formas desses se processarem ao longo
do desenvolvimento da criança, sendo cruciais na manutenção e diagnósticos do
grau que compreende a disfunção.
Existem crianças que por exemplo, têm todos os marcos do
desenvolvimento- próprios a sua faixa etária-
cumpridos até um ano de idade e a partir daí começam a involuir, como
também existem casos em que crianças desde muito pequenas demonstram algum
atraso, e com estimulação evoluem até determinado marco, mas a partir dali, não
desenvolvem mais nada.
É importante ressaltar que, ter em casa um indivíduo
portador de grave forma de autismo pode representar necessidade de alterações
drásticas na dinâmica familiar, tanto no que diz respeito ao atendimento e cuidado
da criança, como no cotidiano de toda a família. Por
encargo dos cuidadores de manter saudável e equilibrado o convívio familiar, é
indicada a orientação psicológica à todos os integrantes da família.
Divã de Cá
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