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Divã de Cá - Autismo: Um espectro de variáveis, do fisiológico ao social

segunda-feira, 2 de junho de 2014
Júlia Rathier, acadêmica do terceiro período de Psicologia da PUCPR Toledo

É  cabível explanar que o termo “Deficiência Intelectual” não significa pura e simplesmente uma carência em questão de habilidades intelectuais. Apesar de estar intimamente agrupada a fatores como esse.
A deficiência intelectual, como toda disfunção, tem um histórico que delineou fases em que ela esteve envolvida, até ser construída como conceito. Um conceito, que nós nos dias de hoje podemos ter acesso ao pesquisarmos de forma mais aprofundada.
          No Brasil, até hoje, ela ainda enfrenta sérias distorções de apontamento, contextualização e definição, apesar de estar sustentada muito mais fortemente, pelo conhecimento científico e pelas bases da  medicina, do que antigamente. A história traz o que pode agora asseverar a contextualização desse quadro clínico no Brasil atualmente, não obstante de citar muitas transformações e medidas ao longo do caminho.
       Consta, que a situação da deficiência intelectual- hoje compreendida e edificada de forma multifacetada por: dificuldades interpessoais, condições etiológicas e dificuldades adaptativas- por volta do século XIX, era de exclusão, o que com o tempo foi sendo mudado. Numa determinada altura dessa mesma época, a princípio começaram a surgir as primeiras intervenções no assunto, por parte da Psicologia – ciência emergente na época- e da Pedagogia. Foram marcos de situações históricas que permitiram ao quadro de exclusão, que a deficiência intelectual enfrentava “evoluir” para uma situação de segregação.
Mas ainda haviam fortes indicadores dessa complicada fase processual ao conhecimento da deficiência intelectual, e alguns deles, parte muito cruel desse processo, como  o abandono, o misticismo em algumas culturas, entre outros.
Sem conhecimento científico nenhum sobre o assunto- o que na época estava engendrando-se das grandes causas para nascer- algumas culturas tinham impresso em seus costumes e na moral de seu povo, comportamento de estranhamento, aos corpos dos que nasciam portando qualquer tipo de deficiência- isto é, de qualquer natureza que fosse- dentro de suas tribos, grupos, ou círculos familiares e de convivência.
Guiados por um aspecto evolutivo acabavam por condenar e executar essas pessoas, na crença de que a permanência delas em corpo e espírito dentro de suas tribos e grupos, ameaçaria vilmente a sobrevivência dos demais- colocando em risco suas tradições, defesas e rituais.
Isso se deve à características inerentemente biológicas e instintivas - por isso explanadas pela evolução e seleção natural- de cada indivíduo somando-se ao grupo todo, concomitantemente carregado na defensiva por honra e conservação de sua própria cultura, e povo.
Não poderiam admitir que tempo, atenção, condições físicas de luta e risco fossem dispostas em função de alguém, enquanto o grupo todo estivesse sendo posto em jogo, e é por isso que comportamentos como esse são tão observados, inclusive em animais, além de em diferentes culturas do ser humano. Pelo seu subjacente propósito evolutivo e de seleção.
Além de que, existiam também fatores de cunho espiritual em determinadas culturas, como em algumas tribos indígenas, por exemplo.
Já na Idade Média, cria-se que “Todos têm alma e são filhos de Deus”.
Observando pelo prisma de descrição dos primeiros marcos históricos, até ali, muita coisa havia mudado e novas óticas ainda vinham a transformar mais o quadro em que se encontrava a definição e pertinência à “deficiência”, no sentido geral da palavra.
No século XVIII, com a Institucionalização, que precedeu a intervenção da Psicologia e da Pedagogia,- tida no século XIX-  um novo paradigma se aproximava, até então ser proposto na década de 60.
Nos EUA, em 1960 esse paradigma é proposto, sustentado na integração de pessoas com deficiência.
Estando contido numa época de Amor Livre, drogas, ascensão da música, entre outros, esse processo de inclusão recebe um avanço significativo com Kennedy, que buscou reformular as questões de tratamento aos deficientes intelectuais, por ter pelo menos dois irmãos portadores da disfunção.
Ainda nos EUA, começa a surgir educação inclusiva nas escolas, com novas teorias e práticas próprias à educação especial.
Mas o novo paradigma, começa a ser submerso por uma onda de normatização, que emerge da problemática de não se encaixar aos nossos modelos, de produção e intelectual, assim fazendo-o perder a força
Tudo isso culminaria à já comentada fase de segregação do século XX.
No Brasil em 1954, no Rio de Janeiro, as APAES surgem, sem fins lucrativos e com procedimentos pagos pelo Sistema Único de Saúde.
Essa mudança traz vários pontos de crescimento e proporciona ainda mais a inclusão por meio de   conquistas como: a regulamentação da aplicação de Teste do pezinho, e da presença de um especialista pediatra no momento do parto, ambos direitos comuns a todas as pessoas.
Em 1989, em 24 de Outubro (no Brasil) começa a inclusão das crianças portadoras de deficiência em ensino regular, com a Lei 7.853, mas ainda assim, sob esse espectro de mudança, cerca de 37% das crianças continuam de fora do ensino regular.
Logo depois, um movimento apaeano no Paraná, é o responsável por incluir 3.000 crianças no ensino regular, e 1.500 jovens no mercado de trabalho.
O trabalho das APAES – mais formalmente hoje- dispõe de propósitos pedagógicos- como a estimulação precoce- e técnicos, tais como profissionais nas áreas de: Psicologia, Medicina, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, e Assistências, Social e Administrativa.
Os desafios hoje giram basicamente em torno da estruturação do ensino regular, solução para a falta de recursos na educação especial e regular, melhorias e incrementos nas condições sociais dos educadores e manter o custo do ensino especial.
Outro quadro em questão e disfunção da qual a deficiência intelectual muito comumente faz parte, é o autismo.
O país referência mundial, e reconhecido como maior proprietário de conhecimento e pesquisa, neurobiológicos em função do autismo, é a Suécia.
O indivíduo com autismo é caracterizado por ter um comprometimento da parte “social” do cérebro, o que confere a ele, a falta de empatia e de uma conexão direta com outro eu.
A deficiência afeta fisiológica e anatômicamente a área frontal do cérebro, e o neurônio denominado “espelho”.
Ao contrário do que é sustentado muitas vezes, o autista não tem uma capacidade cognitiva além da de alguém saudável, mas sim  um hiperfoco, hipertenacidade.
Para diagnosticar o autismo, precisa-se de uma avaliação continuada até aproximadamente um ano e meio de idade, pelo autismo não ser o tipo de disfunção possível de ser descoberta ao nascimento, ao contrário da Síndrome de Down, por exemplo.
Necessita de atenção dos cuidadores e médico quanto aos marcos do desenvolvimento, por existirem várias formas desses se processarem ao longo do desenvolvimento da criança, sendo cruciais na manutenção e diagnósticos do grau que compreende a disfunção.
Existem crianças que por exemplo, têm todos os marcos do desenvolvimento- próprios a sua faixa etária-  cumpridos até um ano de idade e a partir daí começam a involuir, como também existem casos em que crianças desde muito pequenas demonstram algum atraso, e com estimulação evoluem até determinado marco, mas a partir dali, não desenvolvem mais nada.              
É importante ressaltar que, ter em casa um indivíduo portador de grave forma de autismo pode representar necessidade de alterações drásticas na dinâmica familiar, tanto no que diz respeito ao atendimento e cuidado da criança, como no cotidiano de toda a família. Por encargo dos cuidadores de manter saudável e equilibrado o convívio familiar, é indicada a orientação psicológica à todos os integrantes da família.

Divã de Cá

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