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CAPTO Indica - “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”

sexta-feira, 30 de maio de 2014


Camila Nishida, acadêmica do segundo ano de Psicologia da PUCPR Toledo

Quem nunca ouviu essa frase antes? Ela faz parte de uma das músicas mais famosas da banda Legião Urbana, a qual analisarei hoje. Antes de começar, quero dizer que, embora eu ouça essa música desde sempre e saiba a letra dela “de cor e salteada”, tive de ouvir e refletir muitas vezes antes de iniciar esta análise escrita, devido à complexidade da letra. 

 
Música do Legião Urbana - Pais e Filhos

So, let’s go!
A primeira estrofe da música, diz:
           
“Estátuas e cofres e paredes pintadas.
Ninguém sabe o que aconteceu.
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender”

Na primeira frase quando diz “estátuas e cofres e paredes pintadas” (paredes pintadas = quadros de arte), podemos tirar uma breve conclusão de que a jovem em questão era de uma família de classe alta, já que principalmente devido a época de lançamento da música (1989), famílias de classe baixa ou média, provavelmente não possuíam tais artefatos em suas residências.
Mais além, “ela se jogou da janela do quinto andar”, “ninguém sabe o que aconteceu”, “nada é fácil de entender”. Ou seja, uma jovem de classe alta se suicidou, mas ninguém consegue entender o porquê. Afinal, ela não tinha “tudo”? O que a levou a fazer isso? Aliás, o que levam os jovens de nossa sociedade a tirarem a própria vida?
Ao continuarmos a música, a letra diz:

“Dorme agora, é só o vento lá fora!
Quero colo.
Vou fugir de casa.
Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo, tive um pesadelo.
Só vou voltar depois das três. ”

Ao analisarmos estas frases podemos identificar várias fases da vida de um indivíduo, como a infância, quando diz do medo do vento, e dos pesadelos. E a adolescência, quando ouvimos o “vou fugir de casa” e “só vou voltar depois das 3”.
           
            “Meu filho vai ter nome de santo.
            Quero o nome mais bonito.”

            Podemos ver nesses versos uma referência a religião. Muitas famílias escolhem o nome de seus filhos baseado em uma devoção, e se pararmos para analisar mais profundamente, o momento da escolha do nome para o filho é um momento único para os pais. A escolha de um nome que gostem e que representem algo muito importante em suas vidas, demonstra subjetivamente o orgulho que aquele filho representa para a vida deles.
           
            Me diz por que que o céu é azul?
            Explica a grande fúria do mundo.
            São meus filhos que tomam conta de mim. ”

            Mais uma vez, os versos retratam as fases da vida pela quais todos nós passamos. Agora, numa ordem cronológica, dizendo da criança de ontem, o jovem adulto de hoje e o idoso de amanhã.
Quando somos crianças queremos saber coisas que muitas vezes não tem uma explicação concreta, como por exemplo, por que não podemos ver o vento? Por que não podemos ter super poderes? Por que não podemos voar? Por que que o céu é azul?
            Depois, nos tornamos maiores e começamos a entender que aquelas perguntas não representam nossos maiores problemas. Percebemos que o muno não é um conto de desenho animado, e sim, é cheio de problemas e de pessoas que não são tão boas como imaginávamos que fossem. Aí surge aquele questionamento: alguém explica a grande fúria do mundo?
            Mais além, chegaremos em uma idade em que perderemos algumas habilidades. Nossas funções motoras já não trabalharão mais como quando somos jovens, nossa disposição física não será mais a mesma e nossa saúde não será mais tão “de ferro” como antes. Nessa fase, é como se houvesse uma inversão de papéis, e aqueles que foram nossos cuidadores a vida inteira, que escolheram nossos nomes e deram seu suor por nós, passarão a ficar sob nossos cuidados. “São meus filhos que tomam conta de mim”.

“Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar
            Eu moro na rua, não tenho ninguém.
            Eu moro em qualquer lugar. Já morei em tanta casa que nem me lembro mais.
            Eu moro com meus pais.”
                       
Nessa estrofe, os versos retratam a diferença dos arranjos de famílias. Existem filhos com os pais separados. Existem filhos que não tem pais. Existem ainda aqueles que passam de lar em lar, uma temporada na casa de um parente, depois na de outro e outro... E por fim, aqueles que tem seus pais e seu lar.

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Por que se você parar pra pensar, na verdade não há.”

Não me pouparei muito nesse verso, até porque ele em si, já diz tudo. Embora muitas vezes ele seja citado por pessoas que nem se dão conta de seu verdadeiro valor e, me atrevo a dizer que já tenha virado uma frase “clichê”, ela é rica em verdade. E deveríamos praticar com mais frequência o que ela diz.

“Sou uma gota d’água, sou um grão de areia.
Você me diz que seus pais não te entendem, mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo.
São crianças como você. O que você vai ser quando crescer?”

Nesses versos que finalizam a música, é expressado o quão pequeno somos nesse mundo, mas o quanto nos achamos grandes, julgando tudo que nos vem a frente e muitas vezes culpando aqueles que não merecem. Que filho nunca disse que “meus pais não me entendem”, mas como nos diz o próprio Renato “você não entende seus pais”.            
Para terminar, o compositor iguala os pais aos filhos, dizendo que no fundo, todos não passamos de crianças. E como toda criança já ouviu ou ouvirá: o que você vai ser quando crescer?
Concluindo, talvez vocês estejam se perguntando: mas onde está a relação com a Psicologia em tudo isso? A música inteira retrata o desenvolvimento da vida de um indivíduo, as fases pela qual todos passaremos, os questionamentos, as decepções, o sofrimento com o qual desejamos acabar, as personalidades, os comportamentos, os processos psíquicos... Enfim, é um aglomerado do que a nossa amada Psicologia estuda!

O que você vai ser quando crescer?
CAPTO Indica

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