Camila Nishida, acadêmica do segundo ano de Psicologia da PUCPR Toledo
Quem
nunca ouviu essa frase antes? Ela faz parte de uma das músicas mais famosas da
banda Legião Urbana, a qual analisarei hoje. Antes de começar, quero dizer que,
embora eu ouça essa música desde sempre e saiba a letra dela “de cor e
salteada”, tive de ouvir e refletir muitas vezes antes de iniciar esta análise
escrita, devido à complexidade da letra.
Música do Legião Urbana - Pais e Filhos
So,
let’s go!
A
primeira estrofe da música, diz:
“Estátuas e cofres e
paredes pintadas.
Ninguém sabe o que
aconteceu.
Ela se jogou da janela
do quinto andar
Nada é fácil de
entender”
Na
primeira frase quando diz “estátuas e cofres e paredes pintadas” (paredes
pintadas = quadros de arte), podemos tirar uma breve conclusão de que a jovem
em questão era de uma família de classe alta, já que principalmente devido a
época de lançamento da música (1989), famílias de classe baixa ou média,
provavelmente não possuíam tais artefatos em suas residências.
Mais
além, “ela se jogou da janela do quinto andar”, “ninguém sabe o que aconteceu”,
“nada é fácil de entender”. Ou seja, uma jovem de classe alta se suicidou, mas
ninguém consegue entender o porquê. Afinal, ela não tinha “tudo”? O que a levou
a fazer isso? Aliás, o que levam os jovens de nossa sociedade a tirarem a
própria vida?
Ao
continuarmos a música, a letra diz:
“Dorme agora, é só o
vento lá fora!
Quero colo.
Vou fugir de casa.
Posso dormir aqui com
vocês? Estou com medo, tive um pesadelo.
Só vou voltar depois
das três. ”
Ao
analisarmos estas frases podemos identificar várias fases da vida de um
indivíduo, como a infância, quando diz do medo do vento, e dos pesadelos. E a
adolescência, quando ouvimos o “vou fugir de casa” e “só vou voltar depois das
3”.
“Meu filho vai ter nome de santo.
Quero o nome mais bonito.”
Podemos ver nesses versos uma
referência a religião. Muitas famílias escolhem o nome de seus filhos baseado
em uma devoção, e se pararmos para analisar mais profundamente, o momento da
escolha do nome para o filho é um momento único para os pais. A escolha de um
nome que gostem e que representem algo muito importante em suas vidas,
demonstra subjetivamente o orgulho que aquele filho representa para a vida deles.
Me
diz por que que o céu é azul?
Explica
a grande fúria do mundo.
São
meus filhos que tomam conta de mim. ”
Mais uma vez, os versos retratam as
fases da vida pela quais todos nós passamos. Agora, numa ordem cronológica,
dizendo da criança de ontem, o jovem adulto de hoje e o idoso de amanhã.
Quando
somos crianças queremos saber coisas que muitas vezes não tem uma explicação
concreta, como por exemplo, por que não podemos ver o vento? Por que não
podemos ter super poderes? Por que não podemos voar? Por que que o céu é azul?
Depois, nos tornamos maiores e
começamos a entender que aquelas perguntas não representam nossos maiores
problemas. Percebemos que o muno não é um conto de desenho animado, e sim, é
cheio de problemas e de pessoas que não são tão boas como imaginávamos que
fossem. Aí surge aquele questionamento: alguém explica a grande fúria do mundo?
Mais além, chegaremos em uma idade
em que perderemos algumas habilidades. Nossas funções motoras já não
trabalharão mais como quando somos jovens, nossa disposição física não será
mais a mesma e nossa saúde não será mais tão “de ferro” como antes. Nessa fase,
é como se houvesse uma inversão de papéis, e aqueles que foram nossos
cuidadores a vida inteira, que escolheram nossos nomes e deram seu suor por
nós, passarão a ficar sob nossos cuidados. “São meus filhos que tomam conta de
mim”.
“Eu moro com a minha
mãe, mas meu pai vem me visitar
Eu
moro na rua, não tenho ninguém.
Eu
moro em qualquer lugar. Já morei em tanta casa que nem me lembro mais.
Eu
moro com meus pais.”
Nessa
estrofe, os versos retratam a diferença dos arranjos de famílias. Existem
filhos com os pais separados. Existem filhos que não tem pais. Existem ainda
aqueles que passam de lar em lar, uma temporada na casa de um parente, depois
na de outro e outro... E por fim, aqueles que tem seus pais e seu lar.
“É preciso amar as
pessoas como se não houvesse amanhã.
Por que se você parar
pra pensar, na verdade não há.”
Não
me pouparei muito nesse verso, até porque ele em si, já diz tudo. Embora muitas
vezes ele seja citado por pessoas que nem se dão conta de seu verdadeiro valor
e, me atrevo a dizer que já tenha virado uma frase “clichê”, ela é rica em
verdade. E deveríamos praticar com mais frequência o que ela diz.
“Sou uma gota d’água,
sou um grão de areia.
Você me diz que seus
pais não te entendem, mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais
por tudo, isso é absurdo.
São crianças como você.
O que você vai ser quando crescer?”
Nesses
versos que finalizam a música, é expressado o quão pequeno somos nesse mundo,
mas o quanto nos achamos grandes, julgando tudo que nos vem a frente e muitas
vezes culpando aqueles que não merecem. Que filho nunca disse que “meus pais
não me entendem”, mas como nos diz o próprio Renato “você não entende seus
pais”.
Para
terminar, o compositor iguala os pais aos filhos, dizendo que no fundo, todos
não passamos de crianças. E como toda criança já ouviu ou ouvirá: o que você
vai ser quando crescer?
Concluindo,
talvez vocês estejam se perguntando: mas onde está a relação com a Psicologia
em tudo isso? A música inteira retrata o desenvolvimento da vida de um
indivíduo, as fases pela qual todos passaremos, os questionamentos, as
decepções, o sofrimento com o qual desejamos acabar, as personalidades, os
comportamentos, os processos psíquicos... Enfim, é um aglomerado do que a nossa
amada Psicologia estuda!
O
que você vai ser quando crescer?
CAPTO Indica
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