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Resenha - O nome da Rosa

quarta-feira, 14 de maio de 2014
Da esquerda para direita, Letícia Raiane Schranck e Amanda Rottava, acadêmicas do terceiro período de Psicologia da PUCPR Toledo.

    O filme “O Nome da Rosa”, baseado na obra de Umberto Eco, inicia com o relato de um senhor sobre misteriosos assassinatos que estavam ocorrendo em uma abadia no século XIV. Na época, Adson era apenas um noviço que estava acompanhando o monge franciscano Wiliam, ao qual seu pai havia confiado sua educação e bem estar. Com o intuito de solucionar o
s crimes, o monge é convocado e os dois se dirigem ao Norte da Itália onde fatos terríveis e maravilhosos marcam para sempre a vida do rapaz.
    Chegando ao mosteiro o monge Wiliam logo nota que, ao contrário do que se acreditava, as mortes que haviam ocorrido recentemente se tratavam de assassinatos e não foram causadas por alguma força sobrenatural e maligna que pairava sobre a abadia .O monge William, apesar de ser ligado a igreja, era um homem a frente do seu tempo, respaldado, sobretudo, pela razão e amante das obras de Aristóteles que, alguns séculos antes, já diria que a razão asseguraria a felicidade.
    Havia dois motivos pelos quais o monge franciscano havia ido a abadia. O primeiro, para provar que aquele lugar não tinha sido abandonado por Deus, o que era impossível de seu ponto de vista, e que as mortes estavam relacionadas com alguém que possivelmente vivia ali; e segundo, essa abadia possuía uma biblioteca que lhe chamava profundamente a atenção por ser o lugar que guardava a maior acervo de livros cristãos na época, incluindo aqueles proibidos pela Santa Inquisição. O autor, em pequenos detalhes vai demonstrando como era a mentalidade da época. Na primeira noite em que estavam na abadia, se reúnem para o jantar que era acompanhado por preces em latim. O monge encarregado das orações diz “um monge não deve rir. Pois somente os tolos elevam a voz para rir”.
    Certo momento, um monge faz a leitura para outro mais velho que tinha sua visão dificultada pela idade. Nas folhas estava escrito que “Na sabedoria mora o pesar. Aquele que aumenta seu conhecimento também aumenta seu sofrimento”. Essa é mais uma forma do autor tentar mostrar um pouco do pensamento mítico da época em que sabedoria estava ligada a igreja e razão era afronta a fé e ao homem. Essa época é marcada por um acontecimento crucial para Igreja, que foi a Santa Inquisição.  Durante esse tempo, hereges, mulheres consideradas “bruxas” ou feiticeiras e quem se opunha as verdades reveladas pela fé deveria sofrer conseqüências ditadas pela igreja, através de torturas e, em casos mais graves, morriam queimados na fogueira (o que o filme mostra em seu final).
    A estada desses dois novos homens na abadia mostra de uma forma histórica dois pensamentos profundamente diferentes e notados em duas diferentes épocas. De um lado a abadia ainda extremamente ligada a fé, onde se acreditava que não havia outra forma de conhecimento a não ser através da religião. Esse pensamento é visto em toda a Idade Média, conhecida também como Idade das Trevas do conhecimento humano, pois não houve evolução em conceitos sociais, científicos e filosóficos. 


Capa do filme "O Nome da  Rosa" lançado em 1986.

    Do outro lado, estavam o monge franciscano Wiliam e seu noviço Adson que entendiam que a razão não era apenas um dom de Deus. Não que não estivessem ligados a religião, mas em meio a todos aqueles dogmas religiosos eles enxergavam que o pensamento e a razão poderiam ser usados em favor da fé. O pensamento destes dois monges lembra o Renascimento, que foi o momento que o homem começou a reviver os conhecimentos adquiridos na Antiguidade. Era o “ (re)nascimento” dos homens e do conhecimento. E como  o filme exibe, ao mesmo tempo em que na abadia era proibido a leitura de muitos dos livros da biblioteca, especialmente o de Aristóteles, o monge Wiliam tinha um especial interesse por esse filósofo, assim como demonstrava certo tom de deboche a alguns proibições como o riso.
    As mortes continuavam acontecendo, a abadia encontrava-se em um estado de desespero e muitos dos monges acreditavam que as tragédias que vinham ocorrendo poderiam estar ligadas ao livro do Apocalipse. Mas monge Wiliam, desacreditado dessa possibilidade, continua sua procura por um livro que era de seu particular interesse e que ocasionalmente poderia estar ligado aos terríveis fatos que assolavam a abadia. Na tentativa de ajudar, mais irmãos franciscanos chegam a abadia e logo são informados que o demônio é quem esta por trás dos acontecimentos. Monge Wiliam retruca dizendo que a única prova da presença do demônio é o desejo de todos de o verem trabalhando.
    O monge Wilian não demorou a descobrir que as mortes estavam ligadas a um livro proibido que mata, ou melhor, pelo qual um certo homem poderia matar. Mas a essa altura, ele é tirado das investigações porque alguns enviados do papa, homens da Inquisição, se encarregariam delas daí por diante. Segundo outros monges, o irmão Wiliam tinha por defeito pensar demais, confiar nas deduções que vinham da cabeça, ao invés de acreditar nas capacidades proféticas. Para que isso não acontecesse com Adson, ele deveria mortificar sua inteligência. Quando os monges Wiliam e Adson finalmente entram na biblioteca, descobrem que ela é um labirinto recheado de livros, mas aquele pelo qual procuravam, não estava lá.
    No desenrolar dos acontecimentos, os inquisidores responsabilizam uma jovem garota “bruxa”, um monge seduzido e seu cúmplice por atrair o demônio através de objetos de adoração e rituais. Eles são torturados e julgados e vão para a fogueira pagar seus pecados como hereges. Enquanto isso, o monge Wiliam e o noviço Adson vão para a biblioteca e encontram o monge Jorge, que enxergava muito mal, com o livro pelo qual tanto ansiavam e que era tão misteriosamente proibido pela abadia, a única cópia restante do segundo livro da “Poética” de Aristóteles.
    Então encontram a sombra que pairava sobre a abadia, e não era nenhum demônio ou o livro do apocalipse mas sim um monge que havia envenenado o livro de Aristóteles para que ele fosse tido como amaldiçoado. A biblioteca se vê envolta por chamas, mas Wiliam consegue escapar e levar consigo alguns dos livros mais importantes da história da humanidade.
    O nome da Rosa, é um filme intrigante que envolve uma questão vista por dois pontos  distintos: o do pensamento mítico e o do pensamento racional. Atualmente é fácil criticar o misticismo da Idade Média ou até mesmo algumas culturas que ainda utilizam de rituais, caso não haja conhecimento histórico. Mas naquela época o conhecimento era ínfimo, e a doutrina religiosa se apropriava dos movimentos culturais e religiosos e determinava as relações sociais. A ciência era ligada a fé e seus passos eram vagarosos. Os filósofos daquela época estão ligados à teologia. A interpretação da bíblia era uma das questões mais importantes e nessa época não se produziu em termos de teoria, apenas se elaborou sínteses de pensamentos já existentes.


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