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Divã de cá: Todas as alternativas estão incorretas

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

 Júlia Rathier, acadêmica do quarto período do curso de Psicologia da PUCPR Toledo

     Sobre o amor, ninguém nega: É fantástico a nível do quanto é destruidor. Entorpecente e fatigante.
      Quase desesperador, mas com um pouquinho de zelo próprio.
      (Ou não) 

     Em todo caso, o que a gente não nota é a porosidade que se abre na pele pra experimentar o suor, de alguém que a gente só acha que conhece. 
      É isso. É esse "só". É esse "acha".
      É dessa forma que a gente se engana com o que realmente significa
      É dessa forma que a gente se engana com os outros
      E principalmente: É dessa forma que a gente engana a si mesmo
     Tive a ousadia de tentar assegurar que mediante a todas as pessoas que já quis chamar de minhas, e aquelas:
      Que visitas a mim fizeram
      Que os lábios em mim encostaram
     Que roupas cederam e carinhos fizeram: que me conhecia o bastante pra saber que tinha espaço. E que podia me dividir com alguém, e não em alguém.
      Mas  o pior dos enganos:  que não tinha mais nada pra descobrir. Que tudo sobre elas aceitava e conhecia.
      Todas as alternativas estão incorretas
      Marque um x na que menos lhe atinge
      Prefere perceber a verdade relutante, ou humildemente?
      A verdade na maioria das vezes é que a gente se desdobra até não ter mais coragem de se dividir. Ou se divide tanto que esfacela.
     Lacan sustentaria que o amor é justamente dar aquilo que não se tem àquele que não é, e bem defende essa ideia ao dizer que a neutralidade absoluta nos é impossível enquanto humanos.
    Pra Jung, quanto mais conhecemos o que não gostamos em alguém, é mais sobre nós mesmos que descobrimos. E as duas ideias não se confrontam, pois é justamente achando que conhece tudo que a gente se entrega, e entrega até o que não tem. Do contrário, repele. Se guarda.
     Nós temos uma dificuldade enorme em concordar e aceitar que não existam réplicas perfeitas da nossa personalidade ou inúmeras reproduções da lista de qualidades que nós queríamos ter e não conseguimos, em alguém.
      Toda ignorância- disfarçada de inocência- em quem prefere afirmar que se conhece o bastante e que está pronto pra encarar tudo no outro, abraçada à ideia de que tudo deve ser melhor do que ficar sozinho, é o estado torporoso de um coração que já está cheio de não se encontrar.
 A falsa ideia de amor se apropria de tudo isso, porque não só esta presente na sujeição, que transforma laços em farrapos-  ou em nós cegos, passando do que Freud considerou o primário sinal de civilidade do ser bípede, pra tolice - até o achar que ter a própria companhia é um pesadelo que lhe espera por não ter achado alguém ideal.
      Nada parece estar para os ossos do ofício, a terra da pá, o trabalho, o desapego e tudo o que pra nós é difícil, como parece estar pro leito da comodidade, e pra mentira de que a gente ama quem quiser.

Divã de cá

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